O que realmente queremos?

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O que realmente queremos?

Moacyr Castellani – Publicado em: Estado de Minas

Nos dias de hoje, visivelmente marcados pelo desenvolvimento econômico e tecnológico, o sucesso pessoal é dirigido basicamente a conquistas materiais. Somos valorizados pela competência em obter dinheiro, poder e status. Vivemos um cotidiano doente, onde pressão e ansiedade são nossos imperadores. Mas por que tanta pressa ?

Estamos numa era de mudanças rápidas, assim espera-se que tenhamos agilidade suficiente para vencer obstáculos, ganhar dinheiro, construir uma vida estável – nada mal para um final de milênio tão conturbado. Realmente, precisamos nos adaptar aos novos tempos.

Mas simplesmente se adaptar não basta. Precisamos, antes disto, criar um mundo melhor, gerar referências mais positivas para se viver. Senão iremos continuamente nos adaptar a padrões superficiais e sem sentido. Não quero dizer que ganhar dinheiro seja um mero detalhe. Ele é um instrumento da vida moderna necessário à sobrevivência e à realização de alguns de nossos sonhos mais concretos. Só não devemos confundir as coisas, relevando o dinheiro, ao invés de instrumento, como único objetivo. Reconhecer e valorizar também o que preenche nossos corações é essencial para atingir equilíbrio e paz de espírito.

Parece que as pessoas se esqueceram ou não querem enxergar aquilo que elas mais desejam: amor, contato, intimidade. Fomos enganados por padrões sociais que só valorizam o externo em detrimento do afeto das relações verdadeiramente humanas. É o calor, o contato entre as pessoas que move e preenche nossas vidas.

O ser humano precisa ser reconhecido e acreditado pelos outros. Ele precisa amar e ser amado; ser tocado, valorizado, compartilhar suas emoções e ser sinceramente aceito. É maravilhoso ter espaço para se expressar sem medo, é encantador poder ser a gente mesmo. É claro que o crescimento pessoal depende basicamente do nosso próprio esforço, mas o incentivo de quem nos ama e acredita em nossos mais íntimos potenciais atua como um vigoroso catalisador. Compartilhar dá asas à criatividade e desenvolve em muito nossa afetividade.

Acolher o indivíduo como ele é não é fácil, não fomos treinados para isto. O mundo moderno não nos prepara para exprimir afeição e carinho. Ora, aceitar o próximo não é simplesmente respeitar seu espaço e suas características pessoais. É, acima de tudo, reconhecer sua natureza única e particular, suas reais intenções, a luta íntima que o sujeito trava consigo mesmo tentando cada dia mais melhorar. Muitas vezes não temos paciência para lidar com as dificuldades dos outros. Exigimos perfeição em troca da nossa atenção. Vai ver o segredo é lidar com os outros, e não com as dificuldades. Como disse Carlos Molina, terapeuta sistêmico, devemos conhecer as pessoas como são, sem os problemas.

É claro que não podemos ser suas babás, alimentando carências e inseguranças, ou concordando com tudo que dizem. Mas podemos ser seus amigos. Podemos nos tornar disponíveis, oferecendo aquilo que às vezes tanto cobramos – amor. E assim poderemos ser realmente fortes para trilhar nosso rumo. O verdadeiro poder surge da harmonia dos sentimentos.