A Revolução da Consciência

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A Revolução da Consciência

Moacyr Castellani – Publicado em: Estado de Minas

“É nítido o desenvolvimento de uma certa inquietação entre as pessoas diante da velocidade e pressão do mundo moderno. Frente a tanta competitividade, muitas vezes perdemos o contato com pontos importantes da vida: família, lazer, paz, realização. E, enquanto ainda não encontramos a saída para nossos problemas, somos movidos a perguntar: o que então nos espera para o futuro?

Antes de mais nada, é necessário saber que hoje vivemos a chamada revolução da informação. Estamos na era da Internet, do correio eletrônico, telefone celular, interatividade. Com o desenvolvimento da tecnologia, encurtamos distâncias e agilizamos consultas, nos comunicando em fração de segundos, realizando os mais variados negócios, democratizando a informação.

E esta é de fato a glória do século XX. A tecnologia da informação finalmente nos fornece ferramentas para vislumbrar um ambiente mais democrático, onde liberdade de expressão e livre comunicação sejam práticas comuns e cotidianas. Demos um salto gigantesco rumo à construção de uma nova sociedade, onde controle e censura cedam lugar à cidadania e participação do indivíduo.

Mas apenas tecnologia não basta. É claro que a democracia necessita de ferramentas concretas para a circulação da informação e consequente liberdade de expressão, mas qualidade de conteúdo também é vital. Não adianta apenas a existência de uma cultura tecnológica globalizada. É necessário uma visão baseada em valores, consciência e integridade, uma cultura ética e, verdadeiramente, globocêntrica. Nas palavras de Ken Wilber: “(…) o ser humano é inicialmente biocêntrico e egocêntrico, perdido em seus próprios impulsos e incapaz de colocar-se no lugar do outro. Quando o egocêntrico dá passagem ao sociocêntrico, o ser humano passa a tratar os outros de seu grupo com a mesma cortesia que ele dá a si mesmo. E finalmente com a moralidade globocêntrica, o ser humano aventura-se a tratar todos os seres humanos com a mesma dignidade ou no mínimo com oportunidades iguais.”
Contudo, esta ainda não parece uma perspectiva dos tempos atuais. Paralelamente ao intenso desenvolvimento tecnológico, ainda somos extremamente pobres em nossa vida sentimental. Ultimamente, apesar de prodigiosa inteligência, só conseguimos nos distanciar uns dos outros. Vírus e “hackers” são preocupações entre os internautas. Violência, fome, catástrofes e corrupção são as manchetes dos jornais. Brigas, desentendimentos e separações são nossos assuntos mais comuns. Poder, prazer e status é o que as propagandas e modismos nos oferecem em troca do nosso dinheiro. Pressa, crise e ansiedade são as marcas do cotidiano, onde “realidade virtual” e “internetholic” são apenas alguns dos novos termos de uma sociedade repetidamente falsa e manipuladora.

Como disse Peter Russell, parece que ainda estamos meio despertos para nossos potenciais, quem sabe ainda perplexos diante da sedução do poder tecnológico, capaz de manipular um mundo sedento por ser explorado. Mas não devemos interpretar tecnologia de forma negativa. Muito pelo contrário, ela é mais do que natural, define o caráter evolutivo e complexo da humanidade, que não pode e nunca será detido.

Mas devemos conduzir este processo com cuidado e atenção. Já dizia Herman Melville, escritor americano: “facas nos servem ou nos cortam, conforme as pegamos pelo cabo ou pela lâmina”. Não adianta apenas se adaptar à mudança. É preciso agregar valor, profundidade e consciência àquilo que desejamos mudar.

Afinal, para quem anseia obter respostas para suas próprias questões, não é somente aos outros que devemos perguntar. Devemos na verdade ser exploradores de um novo mundo, protagonistas de uma nova era que surge não apenas ligada ao conhecimento e tecnologia mas, fundamentalmente, cravada em uma postura de vida consciente. É preciso finalmente caminhar rumo a uma realidade mais justa e coerente, baseada não apenas na inteligência objetiva, mas em sabedoria, valores e auto-percepção – na revolução da consciência.