A Peste do Século

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A Peste do Século

Moacyr Castellani – Publicado em: Estado de Minas

A humanidade esteve diante das mais diversas pestes e doenças, mas creio que nenhuma foi tão sutil quanto a normose. Este foi o termo criado por Jean Yves Leloup para definir, não uma nova moléstia física, mas um tipo de comportamento moderno intensamente destrutivo e hostil.

Normose seria a doença que faz com que o indivíduo aceite comportamentos nocivos ou aja por sobre um plano ilusório de uma maneira normal. O sujeito se acostuma tanto com determinada situação que nem pensa em questioná-la. Ela passa a fazer parte do cotidiano, mesmo trazendo prejuízos significativos.

Normose é assistir a escândalos políticos como corrupção e desvios de recursos de uma maneira normal. Embora reivindicações por mudanças sejam constantes, ficamos só no discurso. Ao invés de curar o mal pela raiz, somos tentados a simplesmente desviar do problema. Passiva, a sociedade aguarda providências das “autoridades” as quais, quem sabe, nunca chegarão.

A falta de ética dos ambiciosos e o comodismo generalizado inibe credibilidade e bom senso, restringindo a iniciativa e o trabalho criador necessário a uma sociedade próspera e equilibrada. E isto não acontece somente no meio político-social.

A normose é um mal que avassala o mundo inteiro, penetrando também em nossos lares, onde tanto somos influenciados pelas chamadas “propagandas enganosas” da mídia, como tornamo-nos vítimas de maus hábitos e modismos que denigrem cultura e valores sociais.

Num mundo repleto de superficialidades, tornou-se comum assimilar referências vazias e sem sentido. Obsessão por consumo e manutenção de “status” são algumas condutas sutilmente interiorizadas, mesmo sem significado real para nosso próprio crescimento. Adquirimos padrões duvidosos apenas porque são considerados normais.

A normose também está na sexualidade. A revolução cultural, mesmo rompendo com antigos e rígidos padrões de relacionamento, acabou por incentivar situações fúteis e passageiras. Tentando resgatar liberdade e sensualidade, muita gente acabou por trocar intimidade e espontaneidade por indiferença e promiscuidade. Substituímos inconscientemente nossos próprios valores, aderindo às transformações de uma maneira inerte – normal.

Bem, sei que não é fácil exercitar autoconhecimento frente a tantos estímulos. Mas, com sabedoria e vontade de crescer poderemos banir a normose, caminhando equilibradamente rumo a um futuro próspero, onde o progresso seja não só o resultado de transformações urgentes e transitórias, mas sobretudo baseado em valores sólidos e conscientes.