A batalha em busca de poder

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A batalha em busca de poder

Moacyr Castellani – Publicado em: Estado de Minas

Competitividade é a marca da sociedade atual. Num mundo globalizado, dinheiro e reconhecimento estimulam cada vez mais a obsessão das pessoas. Pressionados por uma cultura superficial e materialista, rendemo-nos ao consumo exagerado que nos promete uma falsa e ilusória felicidade. Não percebemos, mas gastamos boa parte do nosso dinheiro em produtos supérfluos. Trabalhamos demais para sustentar um estilo de vida desnecessário. O desperdício é um dos subprodutos da sedução ao consumo.

Nunca a humanidade foi capaz de fabricar tantos produtos para o nosso conforto. Mas nunca as pessoas estiveram tão perdidas sobre o que fazer com este conforto. Ao invés de usufruirmos dos bens materiais, somos seus escravos. Ao invés de utilizarmos os recursos disponíveis para uma vida melhor, nos desgastamos para acumular tais recursos. É a armadilha da vida urbana: quanto mais compramos, mais desejamos, embora quanto mais obtemos, menos nos satisfazemos.

A compulsão é tão automática que metas materiais passam a ser mais importantes que metas pessoais. Trocamos o ser pelo ter, qualidade de vida por quantidade de bens. E, nesta ânsia de ganhar ainda mais, tornamos as pessoas nossos adversários. É a disputa entre quem terá mais, quem será mais capaz. É a batalha em busca de poder.

Não quero dizer que competir não seja importante. Competir faz parte da vida. É uma forma de superar limites, desenvolver os próprios potenciais. Competir é uma maneira de aprender a enfrentar desafios, um incentivo para o autocrescimento. Mas, inadvertidamente, nos distanciamos do que realmente queremos.

Ao invés de competir como forma de desenvolvimento, as pessoas se tornam rivais. Ao invés de realizarem o melhor de si, desejam ser as melhores. Ao invés de superarem seus limites, enfatizam suas próprias qualidades. Não buscam um resultado em comum, tornam-se demasiadamente egoístas. Num ciclo infinito rumo ao sucesso e reconhecimento, fecham-se para os próprios princípios, isolam-se em um ambiente frio e hostil.

Na verdade, a batalha que realmente vale a pena é o próprio desenvolvimento pessoal. O verdadeiro compromisso é com a construção de uma vida coerente com aquilo que somos. A competição é interna. O desafio está na superação dos próprios limites.

É claro que as conquistas materiais também têm a sua importância. São instrumentos modernos que facilitam nossas vidas e por isso devem ser valorizados. Mas não podemos ser seus escravos, nos seduzindo pelas nossas próprias criações.

Afinal, competir apenas para consumir é uma forma egoísta de existir. Nosso mérito pessoal não pode ser medido apenas pelos aplausos de uma platéia. Ninguém nasce apenas para se exibir. Conforto e bem-estar material só trazem felicidade e prazer de verdade quando estamos em paz e serenos com nossa própria consciência.